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ELAS - Djane Plaskett

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Deixa a vida te levar" definitivamente não é para Djane Plaskett. O verso famoso da música de Zeca Pagodinho até é bonito, mas esta virginiana nunca esteve na zona de conforto e gosta mesmo é de estar no controle da própria vida, típico de virginiana. Por isso, está constantemente planejando, fazendo análises de risco e correções de rota antes de dar o próximo passo. É que na maioria das vezes que foi simplesmente por instinto "quebrou a cara". "Se você tem a visão do todo, tem mais chances de dar certo", crava.

E foi com esse pulso firme que prosperou. Hoje empresária, dona do restaurante Makai, em Ilhabela (SP), Djane nunca esquece suas origens e sua infância pobre. A mais velha de uma família de quatro mulheres nasceu em Joinville (SC), mas morou em várias cidades com seus pais.
Com mãe guerreira e pai ausente, Djane se viu na obrigação de ajudar desde cedo sua família e assim o fez. Aprendeu a cozinhar, era dela o almoço de domingo. Fazia questão de manter a "normalidade" em casa com todos à mesa aos finais de semana. Em cursos gratuitos aprendeu culinária, uma paixão. Também se apaixonou por natação, chegando a competir no esporte, e por piano, que aprendeu a tocar em um conservatório. "Fui alfabetizada com escrita musical, mas me faltava um piano em casa para treinar, por isso não fui mais longe. Como disse era pobre e ter piano era coisa de rico".
A pobreza sempre foi um desafio diário. Sofria bullying na escola por isso. Mas hoje entende que era um movimento da época. A maioria sofria bullying por alguma coisa. Assédio era constante também. Difícil de lidar com eles, quando você é uma menina sem um adulto cuidando. "Hoje sei que Deus me protegeu em diversas situações de vulnerabilidade e tudo que passei me tornou mais forte", reflete.
Uma de suas irmãs tinha uma doença congênita, o que fazia com que sua mãe passasse muito tempo no hospital com a menina. "Tive que crescer muito cedo. Comecei a cuidar da casa e ajudar minhas outras irmãs em tudo o que elas precisassem. Queria que nossa casa fosse antes de tudo um lar. E me esforcei para isso", conta.
Djane chegou a trabalhar com seu pai, barbeiro famoso de Santos (SP). Mas sua ausência como figura paterna a fez adulta muito cedo. Sempre estudiosa, ela entendeu logo cedo que sua mudança de vida viria por meio da educação. Fez inglês, datilografia, taquigrafia e curso de secretariado. Tudo entre 12 e 14 anos. Curiosa, entrava em conferências: todo conhecimento era válido.
Até que, aos 18 anos, resolveu ir embora para São Paulo. Era hora de cuidar de si mesma e do seu futuro. "Fui morar no pensionato com oito quartos. Era um banheiro para todo mundo!", se admira ainda hoje. Na capital, arrumou emprego como secretária júnior.
Até que começou a namorar e foi acolhida pela família do rapaz como filha.
Por meio de seu então saudoso sogro conseguiu emprego em uma concessionária. Foi esse emprego que lhe deu condição de prosperar financeiramente. "Ele foi comprar um carro lá na Barão de Limeira, e viu que havia uma vaga de recepcionista no local. Daí me indicou", disse ela, que se adaptou muito bem à área de vendas.
Nunca se esqueceu do Voyage cor Verde Álamo, primeiro carro que vendeu. Mas se especializou mesmo nos veículos da Chevrolet. Se tornou a melhor vendedora da loja, braço direito do dono. Comprava carros em concessionárias menores e levava para São Paulo, onde vendiam a preços melhores.
"Fui conquistando a confiança dos meus clientes, de gerentes de outras concessionárias. Eles me passavam carros na certeza de que receberiam o pagamento. Era uma época que se honravam os bigodes. Se alguém dava a palavra, tinha que cumprir", afirma.
Começou então a ajudar, agora financeiramente, a mãe e as irmãs. E, com o divórcio de seus pais, trouxe as mulheres da família para seu apartamento em São Paulo: a mãe, a irmã doente e a caçula com seu sobrinho.
Casou, engravidou e teve seu primeiro filho (Pedro, 35 anos). "Eu era comissionada quando meu filho nasceu. Trabalhei na sexta e meu filho nasceu sábado", contou ela que hoje é mãe também de Bruno, 25 anos, e Mariana, 23 anos. Na ocasião do nascimento de Pedro, foi também mãe de leite de um menino, filho adotivo de um casal vizinho da concessionária. "Eles me pediram para amamentar o filho deles e foi uma alegria poder ajudar. Temos contato até hoje".
Sua irmã doente faleceu aos 21 anos e logo veio o seu próprio divórcio. Para se distrair, passou a vir com seu filho para Ilhabela para passear. Foi amor à primeira vista, se apaixonou pela cidade. "Um dia vou morar aqui", pensou. Alugou um imóvel e passou a vir religiosamente todos os finais de semana.
Em cinco anos de idas e vindas, conheceu aquele que se tornaria seu segundo marido, caiçara da ilha. Viu que era hora de se mudar em definitivo para a cidade. "Eu tinha tentado fazer faculdade em São Paulo de Serviço Social, na PUC em 1982, mas desisti no segundo ano. Era muito caro e a faculdade fervilhava com o movimento político da época. Lembro de estar numa conferência de políticos da esquerda na época com Roberto Freire, Aldo Rebelo, Paulo Freire, Eduardo Suplicy e um metalúrgico (que vinha como promessa na mesma linha de Lech Walesa, ativista polonês), o nome dele todos conheceriam Lula. Logo depois o Teatro da PUC, TUCA foi incendiado. Fui fazer faculdade mesmo quando me mudei para o litoral, cursei Turismo em uma instituição em Caraguatatuba".
Fez também curso normal, voltado para professores do ensino fundamental, e focou em concursos públicos. Passou em segundo lugar, na sequência foi trabalhar como secretaria da diretoria. Trabalhou em várias frentes, passando pela secretaria de obras, onde se especializou em administração pública, gestão em direito ambiental, auditoria. Foi aluna especial na Faculdade de Saúde Pública da USP e cursou o Gerente de Cidades na FAAP.
Tornou-se secretária de turismo de Ilhabela entre 2008 e 2011. "Eu era 'expert' em buscar recurso público para fazer meus projetos. Na época a prefeitura não tinha dinheiro e era tudo mais difícil. Onde tivesse uma forma de fazer parceria com a iniciativa privada e recursos à fundo perdido no governo Estadual e Federal eu tentava. Levava tudo muito a sério, os objetivos do projeto, o que ele poderia gerar de emprego e renda para a população, as capacitações que podíamos oferecer, os eventos e, claro, a prestação de contas", afirma.
O projeto que se lembra com mais carinho foi o de saneamento ambiental para Bonete. "Dei o meu melhor. Prestei conta em detalhes de todo o período com Secretaria de Turismo, inclusive centavos. Tudo justificado. Acho que fui a única que fez isso! Dormia todos os dias em paz. Me exonerei na ocasião do meu segundo divórcio", conta a empresária, que na época realizou um segundo sonho: montar uma casa para sua mãe, agora em Ilhabela.
Com a saída do funcionalismo público, Djane, com sua visão empreendedora, se voltou à sua paixão de infância: a gastronomia. Makai é o nome do seu restaurante localizado no píer mais famoso de Ilhabela. Inspirada em lugares turísticos que conheceu em suas viagens, a casa é um espaço único.
Dividido em dois ambientes, Makai tem um deck, onde é possível ver toda a vida marinha com cardumes de peixes, tartarugas e arraias; e um rooftop, ambiente glamoroso com decorações que valorizam a feminilidade e de onde pode-se ver a ilha, observando seus moradores e o cotidiano dos pescadores e as aves marinhas ávidas por um descuido destes.
Montado na pandemia, o Makai teve de ser adaptado para lidar com as adversidades impostas durante o período de distanciamento social. As estratégias de Djane deram certo. Hoje, queridinho da cidade, o restaurante conta ainda com playlist planejada, iluminação intimista, mobiliário e decoração para criar um ambiente ainda mais encantador e agradável e tornou-se um espaço de fotos, além, claro, de oferecer uma experiência gastronômica incrível.
"Fui preparando o Makai com muito cuidado e carinho. Treino minha equipe para ter o meu olhar e criar a oportunidade de encantar nossos clientes. Estou no operacional diariamente e faço questão de estar junto com os meus colaboradores. Experimento tudo antes, nada pode dar errado na operação. Ainda cuido da parte de marketing, relações públicas e compras. Esse negócio de 'em time que está ganhando não se mexe' não está com nada. Gosto de inovar", conta.
Às vezes, Djane se acha bem sucedida, outras vezes, não. "Sei que sou esforçada. Nunca estive na minha zona de conforto. Não sou Zeca Pagodinho. Sou Geraldo Vandré: 'Quem sabe faz a hora não espera acontecer'. E é assim que é minha vida, cheia de pedras nos caminhos, mas vou retirando uma a uma", garante.
E foi esse pensamento que passou para seus filhos. "Criei eles para o mundo. Mas sou também muito mãezona. Faço de tudo para criar um ambiente melhor do que eu tive", diz ela. Não à toa, Mariana morou 5 anos em San Diego, agora está em Ilhabela, Bruno faz medicina em Niterói (RJ) e Pedro, formado em marketing, tornou-se braço direito dela no Makai.
"Eu acredito que 'Quem tem boca vai a Roma'. Essa foi uma das boas crenças que meu pai me deixou. Era uma menina de 10 anos e ele sempre me dava tarefas administrativas em endereços que nem sonhava onde ficava. Diante do meu medo era essa a frase dele. Não ter receio de enfrentar o desconhecido. Espero com minha história inspire outras mulheres a tomarem as rédeas de suas vidas e correrem atrás de seus sonhos. Às vezes, ficamos paradas esperando que outra pessoa faça algo por você, quando na verdade está tudo nas suas mãos. Abra a mente, amplie os horizontes e inspire-se em quem já chegou onde você quer estar. Lembre-se sempre: a roda já foi inventada e o mundo é dinâmico", conclui.

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